P o e t a a t é a o u m b i g o , o s b a i x o s p r o s a
Despido de métricas e formalidades, é com o recurso a uma citação de contornos brejeiros que o escritor se define, à medida que fala sobre as escolhas que o tornaram naquilo que é hoje. Do seu currículo constam prémios como o Pessoa (1997), o Grande Prémio de Poesia da Associação Portuguesa de Escritores e vários reconhecimentos, entre eles a Coroa de Ouro do Festival de Poesia de Struga (Macedónia), tendo sido o primeiro português a ser distinguido com o galardão. Na chegada ao refúgio do escritor em Benfica do Ribatejo, o ponteiro da rosa dos ventos apontava fixo para o Porto, cidade que o viu nascer há 64 anos. O cenário escolhido para a conversa foi, como não poderia deixar de ser, o estábulo transformado em biblioteca, onde Vasco Graça Moura guarda os mais de 30 mil livros que possui. Alguns deles adquiridos na Bélgica no contexto das tournées que realizava com Pacheco Pereira, entre outros, angariados através da mesada do período de adolescente. Entre as lombadas, algumas fotografias marcavam presença e no intervalo do fumo das cigarrilhas que Vasco Graça Moura levava à boca, pairava a brisa empoeirada de um espólio, cujo primeiro livro data de 1952. O seu timbre era rouco, mas confiante, e as mãos descontraidamente pousadas sobre o pólo verde espelhavam o à-vontade da conversa. No exterior, fazia-se ouvir o latido dos cães que clamavam pela atenção de um dono habitualmente presente em Bruxelas. Num breve passeio pela casa, também ela plena de livros, surge, junto das obras de Júlio Pomar, um dos quadros do escritor, retrato da infância dos seus quatro filhos.
As suas obras vão ao encontro de Tendo em conta que privilegia muitos outros que no momento para que este possa continuar outras artes, como a música ou a estas áreas, na vida e na escrita, em que estou a ouvir considero a transmitir algo ao leitor de pintura. São paixões secretas ou quais são as estrelas da sua
o máximo, pela empatia que hoje. Claro que há situações
apenas áreas de interesse? constelação?
Não sou capaz de hierarquizar. provocar em mim ou pela alusão a
Artes porque sempre tive uma Gosto particularmente de Piero uma proposta estética ou musical.
e de Picasso. Mas penso que Referiu a importância do os clássicos sobreviverem aos momento. Não é controverso processos de filtragem das socie- para quem traduz clássicos, dades prova que traduzir um
a experiência auditiva frequente. de nomes cimeiros. Toda a criação
exaltar a instantaneidade?
é um local de cultura de onde Os clássicos são traduzidos porque
brinquedo favorito é o i-pod. [risos]
porque, apesar de as condições cadas pelo seu tempo. Bach, e os problemas que o envolvem.
Brahms, Mozart, Beethoven, Traduzir um clássico não é um ela pode ser levada, com a lín-
da minha constelação, mas há restitui-lo na nossa língua seu todo. Considero-me o autor de segunda mãoO que traduz é obra sua? Tradutore, traditore. Walter Benjamin foi o autor pendentemente do sentido. Mas, que mais lhe resistiu à tradução.
dar uma fidelidade maior ao Sempre que possível procuro Porquê?
uma fórmula que é próxima, Benjamin deixou 73 sonetos tradução. Alguma vez sentiu que não tinha
pósito de uma passagem dos nante interessante na escolha de Deixei de advogar há mais de
conseguido passar a mensagem poemas dele que não tinha tra- uma profissão. inicial do autor? Foi imposta?
e literaturas modernas. Mas tive de saberes. A chamada luta foren-
Numa adolescência pautada pela literatura e pelas artes por-
mais eficaz na perspectiva do de lúdico, mas um lúdico que
quê a advocacia? Para além da perspectiva do forma civilizada de ser agressivo.
uma continuidade na tradição ganha-pão, dava-lhe prazer advo-
pretende dizer. Quando traduzi forense e, naquela altura, isso gar? Porque abandonou defini- tivamente a profissão? Não me dilacero entre o escritor e o comentador políticoContido na escrita e desenfreado nos comentários. Concorda?
par muito com escolas ou filia- tar no nosso trabalho aquilo que
Enquanto escritor como viveu Quando é que nasceu verdadeira- o período da ditadura em Por-
Como autor, posso simular. mente a sua veia literária ?
[Pausa] A minha mãe guardava da música, da pintura ou cinema,
se o fizesse. Portanto, tento versos meus escritos aos seis anos,
colocar-me frontalmente em re- de maneira que depois a prática
lação às coisas. Um segundo foi nascendo. Escrever para mim
determinação mais complexa à códigos de expressão. Tentava-se
momento dessa intervenção é o como preocupação literária é uma
Aí devemos entrar em linha de de que aprendi a ler e a escrever,
O que é que ainda espera da literatura? A literatura tem muito
cias da infância. É muito difícil para lhe dar ou é o Vasco que querer, uma nova forma de criação
a tradição polémica portuguesa, dizer quando é que tive o verda-
tem muito para dar à literatura?
tinue a tornar possível realizar- tas vezes não eram colocados
Enquanto leitor alterou a sua perspectiva de ver a literatura, a partir do momento em que come- çou a escrever? Há uma espécie de tensão entre
Quando comecei tinha alguma de um autor que já tem algum com alguma facilidade obras
as duas vertentes?
não me dizia nada esse tipo de um certo tipo de destreza esse bertos, seriam apreendidos. Mas
Convivo perfeitamente comigo estética e cada vez intuí mais tipo de questão já não o preo- para a PIDE, as obras censuradas mesmo e não me dilacero entre no sentido da clareza, que não cupa. Há uma tarimba que se foi
é necessariamente a rejeição de adquirindo e esse capital deve pelas que terminavam em ine:
ser usado sempre. Viver como como Estaline, Lenine ou Racine!!
O poeta é sempre mais melancólicoVolvidos mais de 20 anos, os seus
perfeitamente sintonizado com Referiu em vários momentos que poemas continuam a ser “Ins- as insónias são criativas. Tem ti- trumentos para a Melancolia”? do muitas ultimamente?
Quando o escrevi havia muito Dos romances, qual lhe deu como as coisas são tratadas no Sempre dormi pouco e penso de atitude de ponto de partida mais prazer escrever?
O primeiro romance deu-me utilizou, inspirei-me patente reflectir, ter ideias e desenvolver
um enorme prazer porque era mente. Como o tinha traduzido
Os primeiros três romances Despido das artes, da literatura, da advocacia, dos ensaios, como se definiria?
aproximação à novela. A Zulmira
A única definição que eu gosto Essas ideias prevêem inéditos para os próximos tempos? Que
um poeta maneirista de finais outros projectos tem em mente?
foi o de Por detrás da Magnólia.
do século XVI, Diogo de Sousa, Estou numa fase de organização
A utilização de letras minúsculas
referindo-se a Sá de Miranda: de materiais. Neste momento, está
nas suas obras é um estilo?
Poeta até ao umbigo, os baixos pronta a tradução de Le Cid, do
Corneille, das Elegias de Duíno de
de não privilegiar nenhum de espaços que conheço bem e de me revejo bastante porque retra-
Rilke, do Misantropo, de Molière e
elemento vocabular na minha situações próximas que me terão
ta três tipos de características: a de Cyrano de Bergerac, de Edmond
escrita. Um pouco como o ocorrido e reunir tudo isso numa
coexistência de uma capacidade Rostand, mas aguardam publica-
lírica com um espírito prático ção. Tenho ainda uma série de tex-
Redigiu o Testamento de VGM em Das variadas facetas, qual é a que 2001. Não é precoce a escrita de o realiza por completo?
semelhante, mas não faço uma um texto deste género? Qual é o seu livro de cabeceira, neste momento? Mas isso não é algo contraditório,
O último que pousei foi Memórias uma vez que afirma que nunca de um rústico erudito, o último Alguma vez compôs algum que o escrevi aos sessenta. Apesar se imaginou a escrever a tempo texto no parlamento, à seme- de tudo, há aqui uma dimensão inteiro? lhança do que fez Natália engraçada: Villon era um homem
Nunca quis correr o risco. há sempre uma série deles empi-
Correia, por exemplo?
à frente do seu tempo, mas era Certamente, seria muito mais lhados na Bélgica e em Portugal, à
Uma vez. [sorriso] Durante um um sujeito marginal com uma
Não sou eurocéptico, sou eurofrustradoComo membro da Comissão A coexistência das culturas na preocupação tem a ver com o Parlamentar de Educação e Cul-
sua diversidade dos agora 27 é princípio da subsidiariedade. admira-me que haja, por parte da
tura, que panorama traça para a Europa neste domínio?
O objectivo é bom, mas a é o caso do processo de Bolonha,
metodologia utilizada é má. mas há uma série de aspectos que
entre as grandes frases que os A existência de um grande não estão a ser levados em conta.
saco onde os projectos são Depois há o problema das línguas:
e os quase e nenhuns meios apresentados e seleccionados, pode
de que a Europa dispõe para conduzir a uma aceitação pouco
prosseguir os seus objectivos. exigente dos mesmos. Outra demográfica, tenha um papel rela-
Considera-se um europeísta? tal iria “fortalecer os grandes esta- dos em detrimento dos mais Negócios Estrangeiros da União,
dos estados nacionais veemente- doses de cepticismo, mas não
pequenos”. Isso não é já o que passaria a presidir o Conselho acontece?
mos complexos, desde que não toda a projecção que devia ter no
se chegue a uma fase justifica- mundo. As coisas andam muito mais pequenos. A Constituição entre esses órgãos havia um ele-
também não iria resolver aquele mento que fazia a ligação, o que
Não seguiu a política do seu par- tido e pronunciou-se contra a Constituição Europeia, porque
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Estimated HIV Trends and Program Effects in BotswanaJohn Stover1*, Boga Fidzani2,3, Batho Chris Molomo2, Themba Moeti3, Godfrey Musuka31 Futures Institute, Glastonbury, Connecticut, United States of America, 2 National AIDS Coordinating Agency, Gaborone, Botswana, 3 African Comprehensive HIV/AIDSBackground: This study uses surveillance, survey and program data to estimate past trends and curr