Aos hedonistas que, todos os anos pelo Verão, oferecem o corpo em homenagem
ao sol e a quem a areia quente da praia oferece um altar para os seus actos de adoração e auto-abandono, o fotógrafo Edgar Martins apresenta este fantasmático vestígio como vaga evocação dos bons tempos. Somos instados a usar aqui a nossa imaginação, há uma ausência de vida, uma escassez de propósito e um sentido do inquietante que permeia o silêncio desta fotografia, cujo cenário, qual buraco negro, parece ter consumido todos os vestígios e sinais de vida. O lugar do sol, na sua ausência, foi usurpado por um poderoso holofote, que faz recuar a escuridão da noite e nos obriga a preencher as ausências que ele implacavelmente expõe. Falta aqui tudo o que representa a atmosfera de uma estância balnear; este poderia ser um modelo inanimado à maneira das encenadas paisagens-miniatura do artista americano Michael Ashkin. A precisão da ondulação na areia, o fino pormenor dos sulcos dos pneus e a nitidez das sombras são demasiado perfeitos para serem verdadeiros, demasiado verdadeiros para serem reais; poderíamos avaliar aqui a autenticidade de uma cena simulada. A tranquilidade difusa é paradoxal, perturbadora em lugar de calmante, dissonante, incongruente, o observador anseia pelos sinais e sintomas da vida para aumentar o volume visual e acrescentar a este lugar a sua identidade social. Olhar para esta imagem é como olhar para um retrato desprovido de traços faciais - um súbito dilúvio de homenzinhos todos iguais vestidos de fato e com chapéu alto ao estilo de René Magritte constituiria aqui um precioso bálsamo.
Dada a escassez de pistas fornecidas, a nossa curiosidade é inevitavelmente
despertada e o detective que há em nós começa a rondar a cena. Que país nos é aqui mostrado? De que estação se poderá tratar: Primavera, Verão ou Outono? Que horas são? Com razoável certeza, podemos adivinhar o nascer do dia; então porquê tão copiosa luz artificial? Será este o supérfluo cenário de um filme à espera do regresso dos actores, ou talvez um exercício de defesa civil preparado e pronto para simular o teatro de um ataque terrorista? As possibilidades multiplicam-se mas há sempre mais perguntas do que respostas, sempre mais razões assumidas do que as que a realidade poderia suster.
A areia apresenta-se de três modos diferentes - ondulada, aplanada pelos pneus
e esmagada pelos pés -, mas até mesmo a areia ondulada exibe as marcas de pneus, negando à natureza qualquer base firme. A natureza é fugaz neste cenário, esta é uma contrafacção sintética que, sem sol, se torna vazia. Do incontornável sol, do mar, da areia e do sexo, apenas resta a areia, a praia de sonhos dissipou-se na dolorosa sombra de si mesma. Este é o oposto das fotografias que Massimo Vitali fez das praias do Norte de Itália, fervilhantes de vida e acção. Enquanto nestas o pormenor sacia o nosso olhar, os nossos olhos e o nosso espírito firmemente concentrados no interior da moldura, nesta imagem de Edgar Martins a nossa mente começa a vaguear para além dela. Numa tentativa para reforçar a vacilante ontologia desta imagem, somos tentados a devanear para além dos limites da moldura; sob o tórrido, ofuscante brilho da análise, a moldura começa a dissolver-se, a imaginação rompe o seu estilhaçado limiar, a festa acabou e queremos descobrir para onde foram os foliões; vendo-nos negada a raison d'être social deste cenário, povoamo-lo com as populações criadas pela nossa imaginação e as respectivas narrativas.
A inquietante densidade do pano de fundo negro não se afigura verdadeira, a rede
luminosa que circunda o hemisfério norte à noite, vista do espaço, polui e dilui qualquer prístina negridão. Não testemunhamos já a densa negridão que a noite poderá em tempos ter trazido, de modo que, à semelhança das cenas nocturnas estranhamente minimais e profusamente iluminadas da fotógrafa inglesa Sophy Rickett, esta sólida negridão da imagem de Edgar Martins tem o seu quê de sobrenatural, reforçando essa intangível e contudo de alguma forma persistente presença do inquietante - um abismo cujo limiar vacila nos confins da credibilidade, onde a indexicalidade da imagem apenas tentativamente pode ser mantida graças à suspensão da incredulidade por parte do observador.
Ironicamente, as sombras, habitualmente dotadas de características enigmáticas
ou sinistras, conferem à cena um pouco de realidade e credibilidade. Contudo, a solidez destas sombras, como a das da Pittura Metafisica de Giorgio de Chirico, induz uma sensação de agouro. Os buracos negros na areia - como as poças de negro vácuo criadas pelos óculos de sol que misteriosamente recobrem os olhos de Apollinaire no Retrato de Guillaume Apollinaire (1914) de Chirico - parecem proporcionar um canal àquele esmagador vácuo negro do espaço interestelar que caracteriza as coisas eternas - o tempo aqui está não só congelado como tocado pela eternidade. Estas sombras assumem a sua própria existência, cuja quietude e cujo silêncio podem apenas ser sugeridos, uma sugestão suficientemente decisiva para energicamente significar uma ausência consumptiva, um avassalador sentido do melancólico. As sóbrias e solenes reflexões que pairam sobre nós depois da euforia da festa passaram e dissiparam-se, à medida que a entropia descarna os seus despojos, que as conversas se desvanecem em memórias que conciliam o vazio - tudo isto compõe a atmosfera que impregna a cena.
Edgar Martins gosta das coisas periféricas, esses liminares e muitas vezes
paradoxais buracos na realidade com que nos cruzamos, contornando e eludindo as nossas vidas compelidas. Encontrou aqui o periférico em algo crucial para e evocador da experiência que é o turismo de massas, persistente e familiar para milhões. Captando-o fora de horas no seu aspecto menos típico, no seu estado mais contraditório, Edgar Martins captou uma faceta anelante e enigmática desta cena que nega a sua essência e sobre ela projecta um molde diferente, transformando por completo a mensagem que ela habitualmente veicula. Tal como na sua anterior série de imagens The Diminishing Present / Manifesto sobre o Presente Diminuto, o artista acrescentou um toque de magia e enigma a algo que, à luz do dia, é suficientemente familiar a ponto de quase parecer banal e desta forma perpetua essa tradição do fotógrafo talentoso, capaz não só de ver as coisas sob uma óptica diferente e única como de partilhar connosco a sua visão oblíqua através das qualidades muito especiais da sua imagética fotográfica.
Roy Exley (Tradução do inglês de Maria Ramos)
Ischemic Heart Disease Common Name: Coronary Artery Disease Description: Coronary artery disease is a condition in which fatty deposits (atheroma) accumulate in the cells lining the wall of the coronary arteries. These fatty deposits build up gradually and irregularly in the large branches of the two main coronary arteries which encircle the heart and are the main source of its b
ing algorithms (decision tree and supportvector machine) for HIV-1 genotypic drug-ity is associated with better virological re-Algorithms Need to IncludeHypersusceptibility-resistance interpretation, but neither al-sponses. In addition, hypersusceptibility-persusceptibility. We recently developed alinear statistical model for HIV-1 genotyp-clinical significance has not been firmly To the