Fisioterapia respiratória na bronquiolite
Fisioterapia respiratória nas crianças com
bronquiolite viral aguda: visão críticarespiratory physiotherapy in children with acute viral Fisioterapia respiratoria en niños con bronquiolitis viral aguda:
Marina Herruzo Mucciollo1, Natália A F Simionato2, Lúcia Cândida S de Paula 3, Andréia Inamassi Feola4 , Viviane Cabral Monteiro5, Maria Esther J Ceccon6
1 Aluna do curso de especialização em Fisioterapia em UTI Pediátrica e Neonatal do Instituto da Criança do HC-FMUSP2 Aluna do curso de especialização em Fisioterapia em UTI Pediátrica e Neonatal do Instituto da Criança do HC-
FMUSP; pós-graduada em Fisioterapia Cárdio-respiratória pelo InCor3 Mestranda do departamento de pediatria da faculdade de medicina de São Paulo(FMUSP), Fisioterapeuta responsável
pela equipe de Fisioterapia da Unidade de Cuidados Intensivos Neonatal do Instituto da Criança do HC-FMUSP4 Aluna do curso de especialização em Fisioterapia em UTI Pediátrica e Neonatal do Instituto da Criança do HC-
FMUSP; pós-graduada em Fisioterapia Respiratória pela UniFmu5 Aluna do curso de especialização em Fisioterapia em UTI Pediátrica e Neonatal do Instituto da Criança do HC- FMUSP6 Livre Docente em Pediatria pela FMUSP. Responsável pela Unidade de Cuidados Intensivos Neonatal do Instituto da
a fisioterapia de rotina e a franco-belga, indica a fisioterapia em 95% dos casos, pois observaram
objetivo: Apresentar uma revisão atualizada e
melhora clínica e do desconforto respiratório cau-
crítica da efetividade e segurança das técnicas de
sado pela desobstrução brônquica e remoção de
fisioterapia em recém-nascidos e lactentes porta-
secreção. No Brasil não existe um consenso a esse
dores de Bronquiolite viral aguda. Fontes pes-
respeito e cada Serviço têm a sua rotina de acor-
quisadas: Revisão e inclusão de todos os artigos,
do com o estado do paciente. Conclusão: Não há
não randomizados e randomizados além de rela-
trabalhos suficientes, controlados e randomiza-
tos de casos, obtidos através de busca nas bases de
dos que comprovem a efetividade e a segurança
dados Cochrane, Medline, Bireme, Lilacs e Scielo
da fisioterapia nestes pacientes, no entanto é uma
no período de Janeiro de 1974 a Abril de 2007,
prática utilizada em vários Serviços. No nosso,
utilizando os termos, bronquilite viral aguda, fi-
estamos com estudo em andamento, o qual será
sioterapia respiratória e lactente. síntese dos Da-
dos: A Bronquiolite viral aguda é uma doença que acomete crianças com idade inferior a dois anos e
Descritores:Bronquiolite vira. Modalidades de
pode se manifestar de forma leve, moderada ou
fisioterapia.Recém-nascido. Lactente.
grave, sendo que nesta última situação há neces-sidade de intubação e ventilação mecânica. Nes-
te artigo, revisamos as várias opiniões existentes na literatura acerca da efetividade e segurança do
Objective: To present an updated and critical re-
tratamento fisioterapêutico nos pacientes acome-
view of the effectiveness and safety of physiotherapy
tidos. A literatura anglo-saxônica, não recomenda
techniques in newborns and infants with acute viral
peDiatria (são paulo) 2008;30(4):257-264
Bronchiolitis. researched Sources:Review and tratamiento fisioterapéutico en los pacientes aco-inclusion of all articles, not randomized and ran-metidos. La literatura anglo-sajón, no recomienda domized, besides case reports obtained through the la fisioterapia de rutina y la franco-belga, indica la search in the Cochrane, Medline, Bireme, Lilacs and fisioterapia en 95% de los casos, pues observaron Scielo databases, from January 1974 to April 2007, mejora clínica y del desconforto respiratorio cau-using the terms acute viral bronchiolitis, respiratory sado por la desobstrucción de los bronquios y remo-physiotherapy and infant. Data Synthesis: Acute ción de secreciones. En Brasil no existe un consenso viral bronchiolitis is a disease occurring in children a ese respecto y cada Servicio tiene su rutina de under two years old and which can appear in a light, acuerdo con el estado del paciente. Conclusión: No moderate or serious form, and in this last form there hay trabajos suficientes, controlados y randomiza-is need of intubation and mechanical ventilation. In dos que comprueben la efectividad y la seguridad this article, we review the various existing opinions de la fisioterapia en estos pacientes, sin embargo in the literature about the effectiveness and safety es una práctica utilizada en varios Servicios. En el of physiotherapeutic treatment for such patients. nuestro, estamos desarrollando un estudio, el cual Anglo-Saxon literature does not recommend routine physiotherapy, while French-Belgium literature rec-ommends physiotherapy in 95% of the cases because Palabras claves: Bronquiolitis viral aguda, fisioterapia, they have observed clinical improvement and reduc-tion of the respiratory discomfort caused by bron-chial clearance and secretion removal. In Brazil, there is not a consensus about this and each Health Care Center has its own routine according to the pa-
A Bronquiolite Viral Aguda (BVA) é uma do-
tient’s condition. Conclusion: There are not enough
ença inflamatória aguda, causada pelo vírus sin-
controlled and randomized works that evidence the
cicial respiratório (VSR), em cerca de 60 a 80%
effectiveness and safety of physiotherapy in such pa-
dos casos, e que afeta predominantemente os
tients. However, this is practiced in various Health
bronquíolos. Acomete crianças com idade infe-
Care Centers. In ours, we have a study in progress
rior a dois anos e leva a um quadro respiratório
which will be afterwards published.
do tipo obstrutivo com graus variáveis de inten-sidade. Esta doença ocorre na maioria dos países
Descriptors: Acute viral bronchiolitis, physiotherapy,
nos meses de inverno, e no Brasil, principalmen-
te na cidade de São Paulo, é observada nos meses de abril a agosto1,2.
A mortalidade das crianças hospitalizadas por
VRS varia em torno de 1% naquelas previamente
Objetivo: Presentar una revisión actualizada y
hígidas e 3,5% nas crianças com história prévia
critica de la efectividad y seguridad de las técnicas
de problemas cardíacos, displasia broncopulmo-
de fisioterapia en niños y lactantes portadores de
nar e prematuridade, que são consideradas de
bronquiolitis viral aguda. Fuentes Pesquisadas:
alto risco para esta infecção. A infecção pelo VRS
Revisión e inclusión de todos los artículos, no ran-
não confere imunidade, com possibilidade de
domizados y randomizados además de relatos de casos, obtenidos a través de busca en las bases de
Os sintomas e a gravidade dos pacientes com
datos Cochrane, Medline, Bireme, Lilacs e Scielo en
esta doença são variáveis, desde leves, modera-
el período de Enero de 1974 a Abril de 2007, utili-
dos ou graves. Quando a infecção acomete recém
zando los términos, bronquilitis viral aguda, fisiote-
nascidos prematuros com displasia broncopul-
rapia respiratoria y lactante. Síntesis de los Datos:
monar e/ou cardiopatias, as condições são geral-
La Bronquiolitis viral aguda es una enfermedad que
mente graves, com necessidade de internação em
acomete niños con edad inferior a dos años y pue-
unidade de cuidados intensivos.4 de manifestarse de forma leve, moderada o grave,
A gravidade do quadro clínico está relacionada
siendo que en esta última situación hay necesidad
com o processo inflamatório causado pelo vírus
de entubación y ventilación mecánica. En este ar-
com infiltração de neutrófilos, linfócitos e libera-
ticulo, revisamos las varias opiniones existentes en
ção de mediadores inflamatórios, que provocam
la literatura acerca de la efectividad y seguridad del
edema, espasmo muscular, maior produção de
Fisioterapia respiratória na bronquiolite
muco e sua menor eliminação através de mecanis-
A idéia central da AFE é a modulação do pro-
mo muco-ciliar e, conseqüentemente, obstrução e
cesso expiratório em vista da localização das se-
aumento da resistência das vias aéreas, alem da re-
creções nas vias aéreas inferiores. A técnica, por-
lação ventilação/perfusão alterada que resulta em
tanto, é variável em velocidade, fluxo e volume
hipoxemia e hipercapnia, e que podem progredir
de ar mobilizado, pode ser modulada em razão
para Insuficiência Respiratória Aguda1,5.
do grau e do local da obstrução, da doença, da
O diagnóstico pode ser suspeitado pelo qua-
quantidade e qualidade das secreções, alem de ser
dro clínico, no qual o recém nascido ou o lactente
adaptável segundo a idade, o grau de compreen-
apresentam-se com dificuldade respiratória e co-
são e de atenção da criança. Desse modo, a AFE
riza, ausculta pulmonar caracterizada por crepi-
tem por objetivo promover o aumento do fluxo
tações e sibilância bilateral, e no exame radioló-
aéreo expiratório na traquéia e primeiros troncos
gico podem-se observar áreas de hiperinsuflação
brônquicos à grande velocidade (AFE rápida), ou
pulmonar difusa e ausência de condensação. O
em brônquios mais profundos, gerando baixo flu-
método laboratorial mais específico para o diag-
xo e baixo volume pulmonar para permitir a eli-
nóstico do VSR é o isolamento viral em cultura
minação de secreções mais distais (AFE lenta)11.
de células (PADRÃO OURO) mas o teste de imu-
A AFE procura esvaziar passivamente os pul-
nofluorescência indireta também se oferece como
mões de secreções através do aumento do fluxo
boa alternativa6,7.
expiratório. Pode ser aplicada com as duas mãos,
Os princípios básicos e universalmente aceitos
com ação sobre a dinâmica dos brônquios, movi-
no atendimento a crianças com esta doença, e que
mento dos fluidos, e reologia das secreções que
necessitam de internação hospitalar são a terapia
de suporte respiratório com oxigênio, a adminis-
A Expiração Lenta Prolongada (ELPr) corres-
tração de fluidos para prevenir a desidratação,
ponde à vertente pediátrica do ELTGOL (Expira-
e a orientação aos pais. Os demais tratamentos,
ção Lenta Total em Decúbito Infralateral com a
como o uso de broncodilatadores, inalação com
Glote Aberta), e trata-se de uma técnica passiva
adrenalina, corticosteróides, ribavarina, surfac-
de auxílio expiratório ao lactente, devido à sua
tante, são controversos assim como também o é a
incapacidade de cooperação, realizada em decú-
bito dorsal, através de pressão manual torácica e
A fisioterapia respiratória em pediatria é estu-
abdominal sincronizadas, de forma lenta, ao final
dada desde a década de 1970, quando uma revi-
da expiração espontânea até o volume residual, e
são de Mellins em uma revisão, relatoumostrou,
que os principais objetivos seriam aumentar a
Esta técnica tem por característica promover
remoção de secreções e melhorar a função pul-
maior volume expiratório, com obtenção da de-
monar por reverter áreas de colapsos, através da
sinsuflação pulmonar, o que evita o estreitamento
drenagem postural, percussão torácica e vibração/
brônquico distal e promove a depuração de via
vibrocompressão, como por exemplo, em casos
aérea periférica. Ao trazer as secreções de via aé-
de doenças obstrutivas (como asma e fibrose cís-
rea inferior para via aérea tráqueo-brônquica atra-
tica), atelectasias, pneumonias ou fraqueza mus-
vés do ELPr, estas devem ser eliminadas através
cular com tosse ineficaz, além de seu emprego
de tosse. Nos lactentes, devido à incapacidade de
em recém-nascidos prematuros que permanecem
ação sob comando, ou de realizar tosse voluntá-
por períodos longos na ventilação mecânica10.Os
ria, esta pode ser provocada (tosse provocada ou
recursos utilizados para aplicação da fisioterapia
reflexa) através de estimulação de receptores me-
na faixa etária pediátrica, inicialmente foram ini-
cânicos da traquéia extratorácica, por exemplo,
cialmente adaptados uma adaptação dos métodos
por estímulo de fúrcula esternal com o polegar
utilizados em pacientes adultos, como a tapota-
ou da cavidade bucal baixa próxima a epiglote,
gem, vibrocompressão e drenagem postural. No
decorrer dos anos surgiram técnicas especificas
Apesar dos dados conflitantes na literatura,
apropriadas para cada faixa etária, condizentes
a fisioterapia é aplicada com freqüência nos pa-
com as diferenças anátomo-fisiológicas. Dentre
cientes com BVA e observa-se melhora destes em
elas destacam-se o aumento do fluxo expirató-
nossa pratica diária, principalmente na redução
rio (AFE) e a expiração lenta prolongada (ELPr)
de complicações pulmonares. Porém, não há evi-
dências concretas na literatura sobre sua seguran-
peDiatria (são paulo) 2008;30(4):257-264
ça e eficácia na melhora clínica e pulmonar. Até
Segundo Barben16 crianças com bronquiolite,
o momento, a indicação de tratamento fisiotera-
devem ter manipulação mínima, pois que ainda
pêutico para os recém-nascidos e lactentes com
não existe nenhum estudo placebo-controlado e
bronquiolite aguda é posta em dúvida, e, este es-
randomizado que comprove a eficácia da fisiote-
tudo foi desenvolvido com o fito de realizar uma
revisão sistemática da literatura para análisr dos
Perrota et al1. realizou uma revisão de litera-
trabalhos até hoje publicados e dirigidos à onb-
tura e meta-análise onde foram encontrados ape-
servação da efetividade e segurança das técnicas
nas três estudos clínicos randomizados, citados a
de fisioterapia em lactentes com BVA, uma vez
seguir. O estudo de Webb et al.17 selecionou 90
que acreditamos ser esta uma maneira de dimi-
pacientes e indicou fisioterapia em 44 deles, atra-
vés de PT durante três minutos em posturas de DP, num total de cinco posições, associado à tos-
se ou aspiração nasofaríngea, duas vezes por dia. Bohe et al.18 também selecionaram 32 lactentes,
Foi realizada revisão e inclusão de todos os ar-
e atenderam 16 deles com o emprego de DP, TP,
tigos, não randomizados e randomizados além de
Vibração e aspiração nasal, duas vezes por dia.
relatos de casos, obtidos através de busca nas ba-
Todos avaliaram o tempo de internação e o escore
ses de dados Cochrane, Medline, Bireme, Lilacs
e Scielo no período de Janeiro de 1974 a Abril
Bohe18 nos seus resultados enfatizou que a
de 2007, utilizando os termos, bronquilite viral
manipulação fisioterapêutica aumenta o traba-
aguda, fisioterapia respiratória e lactente.
lho respiratório, com maior obstrução brônqui-ca e queda da SpO2, durante ou imediatamente
após a sessão e, portanto, não deve ser aplicada de forma rotineira. Os outros dois autores tam-
Foram encontrados 165 artigos referentes ao
bém concluíram que não há subsídio para o uso
tratamento em crianças com BVA, no entanto
da fisioterapia respiratória através das técnicas de
somente foram escolhidos 30 artigos que trata-
tapotagem/percussões, vibrocompressão e dre-
vam da efetividade e segurança das técnicas de
nagem postural em crianças com BVA, pois não
demonstraram diferença estatística entre aqueles que receberam fisioterapia e aqueles que não re-
ceberam, conforme verificado pela ausência de alteração dos valores para escore de gravidade
A literatura francesa endossa o papel prepon-
e tempo de internação em ambos os grupos dos
derante da fisioterapia respiratória na estratégia
de tratamento da BVA, enquanto os anglo-saxões
Perrota et al.1 em 2005, ressaltaram ser im-
não a reconhecem como parte integrante do tra-
provável que a fisioterapia por si só possa dimi-
tamento da bronquiolite viral. Os franceses e
nuir o tempo de internação, pois pela evolução
belgas indicam amplamente a fisioterapia, com
natural da doença a alta ocorre geralmente entre
base apenas na fisiopatologia dessa doença. Con-
cedem à fisioterapia respiratória a capacidade de
Postiaux19 em 1995 , relatou os benefícios da
desobstruir as vias aéreas superiores, bem como
fisioterapia respiratória em combinação com ae-
de retirar a secreção brônquica, e é prescrita por
rossolterapia (atrovent brometo de ipatrópio e
médicos em 85% a 95% dos casos13,14.
salbutamol) através da análise da mecânica res-
Vinçon15 em 1994, implantou um programa
piratória e dos sons pulmonares (sibilos), com
ambulatorial de atendimento fisioterapêutico
utilização principalmente das técnicas de expi-
(através de AFE e aspiração) nos fins de semana,
ração lenta prolongada (ELPr) e a tosse provo-
durante os períodos de epidemia (inverno). No-
cada (TP). A fisioterapia respiratória apresentou
tou que os médicos prescreveram maior número
resultados significativos em relação à taxa de sibi-
de sessões de fisioterapia (507) para grande nú-
lância que os lactentes apresentavam. Postiaux20,
mero de crianças (351), e disso resultou maior
em 1999 , avaliou, em 12 lactentes com padrão
disponibilidade de leitos hospitalares e uma eco-
respiratório obstrutivo, a resistência de VAS e a
taxa de sibilos após inalação com broncodilata-
Fisioterapia respiratória na bronquiolite
dores, e posteriormente associada a ELPr e Tosse
maior edema de VAS (o que leva ao desconforto
Provocada. Observou diferença estatisticamente
pela obstrução destas), devem ser tratadas com hi-
significante quanto aos sibilos após a inalação, e
dratação EV e aspiração oral/nasal. Os autores tam-
principalmente quando associada às manobras
bém demonstraram que não há benefício na aplica-
físicas, consideradas pelo autor determinantes
ção de TP e VB na redução de edema de VAS22,23.
para diminuir a obstrução brônquica, já que os
Dois artigos franceses abordam um consen-
sibilos encontrados eram provenientes de secre-
so de 2001 que recomenda e indica o uso da fi-
sioterapia respiratória para crianças menores de
Em 2006 Postiaux21 realizou estudo prospec-
dois anos com bronquiolite. O consenso discute
tivo com 19 lactentes com BVA moderada, que
as divergências entre os países anglo-saxões e de
foram avaliados antes e após 57 sessões de fisio-
língua francesa a respeito da segurança e eficá-
terapia respiratória através da aplicação de ELPr
cia da aplicação da fisioterapia respiratória nestas
e tosse provocada, através do score clínico de
crianças, argumentando que os anglo-saxões uti-
gravidade de Wang (Tabela 1). O autor concluiu
lizam métodos de fisioterapia derivados daqueles
que houve melhora significativa dos parâmetros
aplicados ao adulto ou à criança maior, que cons-
clínicos após sessão de fisioterapia e, portanto, a
tituem a fisioterapia respiratória convencional, o
ELPr pode contribuir para melhorar os sintomas
que inclui essencialmente a drenagem postural,
de obstrução brônquica, e é uma alternativa para
a tapotagem e as expirações forçadas. Estas téc-
nicas produzem efeitos deletérios como colapso
Os “Guidelines” Americanos de Pediatria, A
dos bronquíolos, aumento das sibilâncias e mais
Academia Americana de Pediatria, através de es-
raramente, queda nas taxas de saturação 24,25.
tudos clínicos randomizados e estudos de coorte
Por outro lado, a abordagem fisioterápica re-
e caso -controle encontrados na literatura, desen-
comendada pelos franceses é constituída por téc-
volveram níveis de recomendação para os recur-
nicas passivas que agem exclusivamente sobre
sos terapêuticos aplicados na BVA22,23.
o tempo expiratório, que são fundamentadas na
Dentre eles, concluiu-se que a fisioterapia
mecânica respiratória, respeitando as particu-
respiratória não deve ser usada rotineiramente
laridades da fisiologia respiratória das crianças
no tratamento da BVA (Nível de evidência B),
menores,que têm brônquios estreitos, riqueza de
pois o nível de estresse que a criança desenvol-
células secretivas, pouca ventilação colateral, ca-
ve, sugere a aplicação de outros recursos. No
racterísticas que favorecem o colapso alveolar, a
entanto, é sugerido que a fisioterapia pode deso-
estase das secreções e a formação de bolhas por
bstruir as vias aéreas com remoção de secreções,
e na prevenção de atelectasias, através de aspi-
De acordo com Postiaux25, para crianças não
ração nasal22,23.
entubadas o esquema terapêutico validado se
Os autores referem que as crianças com des-
baseia em técnicas expiratórias passivas lentas,
conforto respiratório leve e que se alimentam nor-
associadas a pressões manuais passivas tóraco-
malmente, devem ser apenas observdas. Aquelas
abdominais (ELPr), acompanhadas de vibrações
que apresentam desconforto respiratório mais im-
manuais e da técnica da tosse provocada. Na pre-
portante (FR 60/70 rpm), com dificuldade para
sença de sibilos na ausculta, a terapia é precedida
alimentação, risco de refluxo e broncoaspiração, e
de inalação com broncodilatadores. A validação
tabela 1. Escore clinico de gravidade. (Postiaux G, Dubois R, Marchand E, Demay M, Jacquy J,
Margiaracina M. Effets de la kinésithérapie respiratoire associant expiration lente prolongée et toux
provoquée dans la bronchiolite du nourrisson. Kinesither Rev 2006; 55: 35-41)
audível com estetoscópio audível sem estetoscópio audível sem estetoscópio
peDiatria (são paulo) 2008;30(4):257-264
deste protocolo terapêutico se apóia na compara-
do aumento transitório do trabalho respiratório
ção de parâmetros mecânicos ventilatórios (resis-
devido à indução de colapso expiratório, maior
tência pulmonar total) e na presença de sibilos à
refluxo gasto-esofágico e até fratura de costelas.
ausculta pulmonar, que demonstram resultados
Porém, de acordo com o parecer de outros espe-
imediatos quanto à obstrução das vias aéreas.
cialistas, a fisioterapia promoveu desobstrução de
O autor também afirma que estas manobras
Vias Aéreas Superiores (VAS) e de Vias Aéreas In-
são bem toleradas por pacientes com fadiga e re-
feriores (AFE e Tosse Provocada). O autor ainda
atividade brônquica, nos quais não se provocam
ressalta que a fisioterapia não deve ser indicada
colapso alveolar, seqüestro de ar, nem grandes
pelo diagnóstico de base, mas sim após uma ava-
alterações na pressão transmural, principal in-
conveniente das técnicas expiratórias forçadas e
Narbonne (2003) teve como objetivo em seu
ainda, atingem regiões mais distais. Deve-se con-
estudo avaliar a curto prazo a eficácia da fisiote-
siderar o estado clínico do paciente e monitorar
rapia em crianças com bronquiolite viral aguda e
parâmetros como oximetria para definir a neces-
em ventilação mecânica . Para a realização deste
sidade da realização da fisioterapia respiratória e
estudo foram analisados os dados de 20 crian-
uma vez indicada deve ser aplicada por fisiotera-
ças com bronquiolite que estavam sob ventilação
peuta especializado nas respectivas técnicas25.
mecânica na modalidade de pressão controlada.
Um estudo norte-americano de 2002 elaborou
Antes da realização do trabalho foram mensu-
normas de padroniozação para o tratamento de
radas a saturação de O transcutanêo, a PaCO
crianças com bronquiolite/ pneumonia viral por
(Pressão arterial de CO ) e o volume pulmonar,
meio de um estudo prospectivo de coorte com
com avaliação destes após a realização da fisio-
controles retrospectivos em outros hospitais,
terapia respiratória e da aspiração endotraqueal,
onde foram selecionadas 10.636 crianças e ado-
em oito análises. O volume pulmonar de base,
lescentes de zero a 21 anos, hospitalizados com
saturação de O transcutanêo e PaCO não apre-
bronquiolite e/ou pneumonia viral26.26
sentaram alterações após a aspiração endotra-
Entre vários aspectos analisados observou-se
queal. Imediatamente e uma hora após a fisiote-
que houve diminuição significativa na indicação
rapia respiratória houve melhora da SpO (98%
e aplicação de fisioterapia respiratória no hospital
contra 94.5%), e do volume total (66 contra 55
onde as normas foram inicialmente implantadas.
ml) os quais aumentaram significativamente, o
Porém, em relação aos outros hospitais,a indica-
que permite concluir que a fisioterapia respirató-
ção da fisioterapia respiratória foi maior26. Este
ria auxilia no aumento da saturação de oxigênio
instrumento preconizava que o uso de fisiotera-
pia, assim como de broncodilatadores, deveriam
Chalumeau et al.29 em 2002, em estudo retros-
ser empregados ou mantidos apenas se o médi-
pectivo, demonstraram que de todas as crianças
co comprovasse diferença na evolução clínica de
com BVA e/ou pneumonia internadas em hos-
cada paciente, com os índices de melhora aferi-
pitais universitários na França, que receberam
dos através do escore de desconforto respiratório,
atendimento diário de fisioterapia, tanto hospi-
que avalia freqüência respiratória de acordo com
talar quanto domiciliar, por um mês, através da
a idade, tiragens, sibilância e ventilação26.
aplicação de AFE, cinco apresentaram fraturas de
Alguns estudos criticam o uso de tapotagem,
costelas e, destas, quatro tinham BVA, com ida-
na bronquiolite viral aguda, para crianças de 0-24
de entre dois a sete meses, sem antecedentes de
meses de idade. Esse recurso não esta indicado
trauma, abuso infantil, fragilidade óssea ou rea-
devido às diferenças anátomo-fisiológicas das
nimação cardíaca. Os autores concluíram que es-
crianças nesse período. Técnicas de aceleração do
tas fraturas (laterais e posteriores) poderiam ser
fluxo expiratório (AFE) e o trabalho da mecânica
resultado da pressão ântero-posterior aplicada
respiratória parecem ter um melhor resultado na
pelos fisioterapeutas nas técnicas de aumento de
melhora clínica do paciente, porém não existem
fluxo, talvez por treinamento inadequado destes
estudos randomizados e controlados que mos-
ou falta de adaptação ao padrão respiratório da
trem o real resultado dessa intervenção14.
criança. Apesar disto, a técnica é largamente in-
Em revisão de literatura, Sardet encontrou
cinco estudos que contra-indicam a aplicação de
Essas complicações da fisioterapia respiratória
fisioterapia (DP/ TP/ VC) por ter sido demonstra-
são raramente observadas em crianças hospitali-
Fisioterapia respiratória na bronquiolite
zadas. Segundo estudo de Chaneliére30, a ocor-
bubble CPAP in infants with bronchiolitis admitted
rência de fratura pode ocorrer em 1/1000 aten-
to a combined adult/paediatric intensive care unit.
dimentos de fisioterapia, e o autor atribui esta
complicação à “doença da fragilidade óssea tem-
5. King WJ, Le Saux N, Sampson M, Gaboury I, Norris
porária” ou a má aplicação da técnica de AFE.
M, Moher D. Effect of point of care information on
Oberwaldner10 ressaltou que as técnicas apli-
impatient management of bronchiolitis. BMC Pe-
cadas em pediatria não devem ser as mesmas apli-
cadas rotineiramente em adultos, já que a criança
6. Fischer GB, Teper A, Colom AJ.Acute viral bronchi-
possui variações anatômicas e fisiológicas pró-
olitis and its sequelae in developing countries. Pae-
prias da idade, e que estão em constante mudança
desde o nascimento (em RN a termo ou PT) até a idade pré-escolar principalmente, o que altera os
7. Rubin FM, Fischer GB. Características clínicas e da
princípios mecânicos das técnicas aplicadas de-
saturação transcutânea de oxigênio em lactentes
vido às diferentes estruturas e funções da árvore
hospitalizados por bronquiolite viral aguda. J
Perrotas31 em 2007 incluiu em seu trabalho o
8. Khoshoo V, Ross G, Edell D. Effect of interventions
estudo realizado por Postiaux em 2006, que mos-
during acute respiratory syncytial virus bronchiolitis
trou que não há nenhuma evidência científica
on subsequent long term respiratory morbidity. Pe-
que comprove a eficácia da fisioterapia respirató-
ria em recém nascidos e lactentes portadores de
9. Davison C, Ventre KM, Luchetti M, Pandolph AG. Ef-
bronquiolite, mas que a utilização de um escore,
ficacy of interventions for bronchiolitis in critically
baseado em sinais clínicos, pode contribuir para
ill patients : A systematic review and meta-analysis.
respaldar as técnicas de obstrução em lactentes
10. Oberwaldner B. Physiotherapy for airway clearance
in paediatrics. Eur Respir J 2000;15:196-204
11. Sarmento GJV. Fisioterapia respiratória em pedia-
Após esta revisão concluímos que não exis-
tria e neonatologia. Barueri: Manole; 2007. p.1-6: O
tem trabalhos clínicos controlados e randomiza-
histórico da fisioterapia em pediatria:
dos suficientes para comprovar a efetividade e a
12. Postiaux G. Fisioterapia respiratória pediátrica: o
segurança da fisioterapia para a melhora clínica
tratamento guiado por ausculta pulmonar. 2ª ed.
de crianças com BVA. No entanto esta é realizada
Porto Alegre: Artmed; 2004.135-86: As principais
em vários Serviços. No nosso, estamos com es-
técnicas fisioterapêuticas de higiene brônquica em
tudo em andamento, e que será posteriormente
pediatria (manuais, não-instrumentais):
13. Binderling G, Bodart E. Tratamento da bronquiolite por
pediatras belgas: discrepâncias entre medicina base-
ada em evidências e prática. Acta Clin Bélg 2003;58-2
1. Perrotta C, Ortiz Z, Roque M. Chest physiotherapy
14. Halna M, Leblond P, Aissi E, Dumonceaux A, Dele-
for acute bronchiolitis in paediatric patients be-
poulle F, El Kohe R, et al. Impact of tne consensus
tween 0 and 24 months old. Cochrane Database Syst
conference on outpatient treatment of infant bron-
chiolitis. Three-year study in the Nord district of
2. Manoha C, Espinosa S, Aho SL, Huet F, Pothier
P.Epidemiological and clinical features of hMPV,
15. Vinçon C.Un service de soins urgents externes de
RSV and RVs infections in young children. J Clin Vi-
kinésithérapie respiratoire pédiatrique à l´hospital.
3. Riccetto AGL, Ribeiro JD, Silva MTN, Baracat ECE.
16. Barben J, Hammer F. Current management of
Fatores prognósticos para ventilação mecânica em
acute bronchiolitis in Switzerland. Swiss Med WKLY
lactentes com doença respiratória aguda baixa. Rev
17. Webb MSC, Martin JA, Cartlidge PHT, NG YK, Wright
4. Pirret AM, Sherring CL, Tai JA, Galbraith NE, Patel R,
NA. Chest physiotherapy in acute bronchiolitis. Arch
Skinner SM. Local experience with the use of nasal
peDiatria (são paulo) 2008;30(4):257-264
18. Bohe L, Ferrero ME, Cuestas E, Polliotto L, Genoff
25. Postiaux G. Quelles sont les techniques de désen-
M.Indicacion de la fisioterapia respiratoria con-
combrement bronchique et des voies aériennes
vencional en la bronchiolitis aguda. Medicina
supérieures adaptées chez le nourrisson? Arch Pé-
19. Postiaux G , Lens E , Lad HA K, Gillard C, Charli-
26. Todd J, Bertoch D, Dolan S. Use of a large na-
er JL. La kinésithérapie respiratoire du tout-petit
tional database for comparative evaluation of the
(<24 mois). Quels effets et à quel étage de l’arbre
effect of a bronchiolitis/viral pneumonia clinical
trachéo-bronchique? 1re partie: Relation entre les
care guideline on patient outcome and resource
paramètres mécaniques et les bruits respiratoires
utilization. Arch Pediatr Adolesc Med 2002;156:
chez le nourrisson broncho-obstructif. Ann Kinési-
27. Sardet A . Le désencombrement bronchique et/ou
20. Postiaux G. Auscultation pulmonaire et ki-
des voies aériennes supérieures est-il indiqué dans
nésithérapie en pédiatre. Rev Mal Respir 1999;16(
la bronchiolite du nourrisson? Em préciser lês mo-
dalités de prescription. Conference Consensus. Arch
21. Postiaux G, Dubois R, Marchand E, Demay M, Jac-
quy J, Margiaracina M. Effets de la kinésithérapie
28. Narbonne B. Effectiveness of chest physiotherapy
respiratoire associant expiration lente prolongée et
in ventilated children with acute bronchiolitis. Arch
toux provoquée dans la bronchiolite du nourrisson.
29. Chalumeau M, Foix-l`Helias L, Scheinmann P, Zuani
22. American Academy of Pediatrics, Subcommittee on
P, Gendrel D, Ducou-le-Pointe H. Rib fractures after
Diagnosis and Mangement of Bronchiolitis. Diag-
chest physiotherapy for bronchiolitis or pneumonia
nosis and management of bronchiolitis. Pediatrics
30. Chanelière C. Fractures costales au cours des bron-
23. Clover R D. Clinical Practice Guideline for Bronchi-
chiolites aiguës virales : à propos de 2 cas rib frac-
olitis: Key Recommendations. Am Fam Physician
tures after chest physiotherapy: a report of 2 cases.
24. Stagnara J, Balagny E, Cossalter B, Dommerges J
31. Perrotta C, Ortiz Z, Roque M. Chest physiotherapy
P, Dournel C, Drahi E, et al. Prise en charge de la
for acute bronchiolitis in paediatric patients between
bronchilite du nourisson. Texte des recommanda-
0 and 24 months old (Review). Cochrane Database
tions. Arch Pédiatr 2001;8(Suppl. 1):11-23
Endereço para correspondência: Lúcia Cândida S de Paula Instituto da Criança do Hospital das Clínicas HCFMUSP Av. Dr. Enéas Carvalho de Aguiar, 647 Cerqueira César – SP – 05403-000 (11)3069-8590 Enviado para publicação: 1/4/2008Aceito para publicação: 17/6/2008
RAHMENVERTRAG gemäß § 137f i.V.m. § 137g SGB V zwischen der AOK – Die Gesundheitskasse für Niedersachsen Hildesheimer Straße 273, 30519 Hannover zugleich für die See-Krankenkasse dem BKK Landesverband Niedersachsen-Bremen Siebstraße 4, 30171 Hannover dem IKK - Landesverband Niedersachsen Günther – Wagner Allee 33, 30177 Hannover der Landwirtschaftl