ARTIGO DE ATUALIZAÇÃO
Síndrome do intestino irritável – Ênfase ao
Irritable bowel syndrome – Emphasis to the treatment
Maria do Carmo Friche Passos Professora Adjunta-Doutora do Departamento de Clínica Médica da Faculdade de Medicina da UFMG e da Faculdade de Ciências Médicas/MGINTRODUÇÃO
fagianas, gastroduodenais, intestinais, biliares, anorretaise dor abdominal funcional. A SII, como também a consti-
A síndrome do intestino irritável (SII) é uma condição
pação e a diarréia funcional, é considerada um distúrbio
clínica muito comum em todo o mundo. Estudos de
prevalência realizados nos Estados Unidos estimam que
entre 10% a 15% da população apresenta sintomas da
FISIOPATOLOGIA
síndrome, com predomínio nas mulheres. Embora somente
30% dos pacientes procurem assistência médica, a SII é
A etiologia e fisiopatologia da SII não são ainda total-
responsável por aproximadamente 12% das consultas de
mente compreendidas, mas acredita-se, pelos conheci-
assistência primária e 28% das consultas aos gastro-
mentos adquiridos nos últimos anos, que sejam multi-
fatoriais. A diversidade das manifestações clínicas apre-
Trata-se de um distúrbio funcional do trato digestivo
sentadas pelos pacientes torna pouco provável que um
para o qual não se demonstrou, até o momento, qual-
único mecanismo seja o responsável pela síndrome e,
quer alteração metabólica, bioquímica ou estrutural da(s)
provavelmente, que estão implicados transtornos da fun-
víscera(s) envolvida(s), manifestando-se pela acentua-
ção intestinal, juntamente com a percepção anormal de
ção, inibição ou simplesmente modificação da função in-
fenômenos normais. Alterações na motilidade gas-
trintestinal e na percepção visceral, bem como fatores
Os sintomas típicos da SII são desconforto ou dor ab-
psicossociais, contribuem para a expressão dos sinto-
dominal, geralmente localizados na região baixa do ab-
dômen, associados à alteração do hábito intestinal – cons-
As alterações da regulação das conexões do sistema
tipação, diarréia ou alternância de uma e de outra. Ou-
nervoso central (SNC) com o intestino têm sido muito
tros sintomas freqüentes são muco nas fezes, urgência
estudadas e, provavelmente, centros neurais superiores
retal, distensão abdominal e flatulência. A síndrome é de
modulam as atividades motora e sensorial gastrintestinal,
evolução crônica com amplo espectro de gravidade que
varia de manifestações clínicas leves a muito exuberan-
O modelo proposto admite a integração das ativida-
tes. Os múltiplos sintomas associados à SII exercem con-
des motoras, sensoriais, autonômicas do trato digesti-
siderável impacto sobre a qualidade de vida do paciente,
vo, interagindo continuamente com o SNC. Compreen-
limitando a sua vida social, as oportunidades educacio-
de-se, assim, que informações exteriores ou cognitivas,
mantendo conexões com centros que interferem na fun-
Investigadores propuseram um novo sistema de clas-
ção gastrintestinal, tenham capacidade de influenciar a
sificação para estes distúrbios funcionais intitulado Roma
secreção, a motilidade e as sensações digestivas. Al-
II. Esta classificação se baseia na premissa de que todas
guns estudos recentes sugerem que o SNC processa anor-
as desordens funcionais do aparelho digestivo apresen-
malmente a informação na SII. Se essas observações
tam alterações motoras e/ou sensitivas similares e para
forem confirmadas, a associação entre as alterações de
cada uma delas existem sintomas característicos e facil-
personalidade e os transtornos funcionais provavelmen-
mente identificáveis. O comitê Roma II classificou essas
te terão como base uma disfunção central.
alterações funcionais de acordo com as regiões ana-
Relatos recentes sugerem também que a ativação
tômicas, distinguindo-as em seis grupos, a saber: eso-
imunológica e a inflamação da mucosa podem estar
12 JBG, J. bras. gastroenterol., Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.12-18, jan./mar. 2006
SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL – ÊNFASE AO TRATAMENTO
associadas às alterações neuropáticas relatadas na fisio-
TRATAMENTO
patologia da síndrome e justificam o conceito da SII pós-
O tratamento da SII, especialmente de suas formas
graves, representa um dos grandes desafios para o
DIAGNÓSTICO
gastroenterologista, sendo que, até o momento, não existeuma terapêutica que seja verdadeiramente eficaz. Os
Vários estudos recentes demonstram que não há ne-
novos conhecimentos fisiopatológicos de relevância so-
cessidade de uma extensa bateria de exames para o di-
bre a SII propiciaram o direcionamento nas pesquisas de
agnóstico da síndrome em um paciente com sintomas tí-
novos fármacos capazes de atuar sobre a motilidade do
picos e que não apresentam sinais de alarme (emagreci-
TGI (exercendo um efeito procinético ou antiespasmódico)
mento, anemia, enterorragia, febre recorrente, mudança
e/ou sobre a hipersensibilidade visceral (reduzindo o li-
do calibre das fezes, massa palpável, história familiar de
miar de sensibilidade). Os agentes serotoninérgicos agem
câncer de cólon). É essencial realizar história clínica e
potencialmente nos múltiplos sintomas sensoriais e de dis-
exame físico minuciosos, pois a anamnese bem conduzida
motilidade (base da fisiopatologia mais moderna da sín-
servirá como um guia ao clínico para inclusão ou exclusão
drome) resultando teoricamente em melhora global dos
do diagnóstico da SII e a seleção dos pacientes que deve-
sintomas. É nítida, no entanto, a lacuna ainda existente
rão ser investigados como também para a melhor tera-
entre a pesquisa básica e a prática médica constatada
pela escassez de novos fármacos liberados para comer-
Os critérios estabelecidos pelo Consenso Roma II são
cialização. Certamente, a otimização do manuseio tera-
os mais utilizados para o diagnóstico. De acordo com
pêutico dessa síndrome virá, em futuro que acreditamos
esses critérios, a SII se caracteriza pela presença de
próximo, com o real conhecimento de toda a sua fisio-
dor e/ou desconforto abdominal, contínuos ou recorren-
patologia e, conseqüentemente, com a disponibilização
tes com, no mínimo, 12 semanas de evolução, não ne-
de inúmeros fármacos específicos capazes de melhorar
cessariamente consecutivas, nos últimos 12 meses e que
globalmente ou, até mesmo, curar o paciente.
apresentam pelo menos duas das três seguintes carac-
A estratégia terapêutica atual vai depender da nature-
za e intensidade dos sintomas, do grau de comprometi-
mento funcional e de fatores psicossociais envolvidos.
Existe um consenso, cada vez mais aceito, de que as
Início associado às mudanças na freqüência das
medidas de atenção primária são aquelas que refletem o
melhor controle dos sintomas (dor, diarréia, constipação),
Mudança na consistência (forma) das fezes.
como pode se observar nas escalas de melhora clínica
global. Deste modo, a maneira mais adequada de tratar o
Alguns outros sintomas, quando presentes, reforçam
paciente é por meio de uma abordagem ampla e integral,
o seu diagnóstico como urgência evacuatória, sensação
mas individualizada, tentando identificar os fatores
de evacuação incompleta, presença de muco nas fezes e
desencadeantes ou agravantes da sintomatologia, ineren-
tes a cada paciente. A freqüência das evacuações, a con-
A propedêutica complementar deve ser realizada de
sistência das fezes e a satisfação dos pacientes são os
maneira individualizada e, em alguns casos, está indica-
melhores indicadores da eficácia clínica.
do um teste terapêutico antes de se iniciar a investiga-
Uma boa relação médico/paciente é fundamental. É
ção diagnóstica. O conhecimento dos critérios de Roma
necessário que os pacientes sejam esclarecidos de que
II associado a uma atitude positiva de considerar o diag-
seus sintomas são decorrentes de distúrbios funcionais
nóstico da síndrome precocemente pode levar o médico
e não caracterizam nenhuma doença grave ou risco de
a conduzir o atendimento dos pacientes de uma manei-
vida, assegurando-lhes que o problema será tratado de
ra mais custo eficiente do ponto de vista de procedimen-
forma interessada e racional. A tendência do médico é,
tos diagnósticos. Vários fatores devem ser considerados
com freqüência, subestimar queixas de caráter funcio-
como a idade do paciente, a presença dos sinais de alar-
nal provavelmente por um desconhecimento da atual
me, a facilidade de acesso à investigação, os riscos e
fisiopatologia da síndrome e da importância dos eventos
benefícios do tratamento farmacológico e as conseqüên-
Embora nenhuma alteração rigorosa da dieta esteja
Deve-se também avaliar a presença de co-fatores psi-
indicada, devemos respeitar as intolerâncias específicas
cológicos, ambientais e dietéticos e o uso de medica-
de cada paciente. É necessário fazer uma cuidadosa re-
mentos que possam interferir com a freqüência eva-
visão dos hábitos alimentares, orientando uma alimen-
tação mais adequada. Essencialmente, a dieta deve ser
JBG, J. bras. gastroenterol., Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.12-18, jan./mar. 2006
pobre em gorduras e em "alimentos sabidamente produ-
dos sintomas em mais de 50% dos pacientes, indicando
tores de gás", sobretudo se há queixa de distensão abdo-
que a terapêutica com medicamentos nem sempre é ne-
minal e flatulência. Recomendamos a ingestão de fibras e
líquidos na dieta (especialmente para os pacientes com
As opções terapêuticas para os pacientes com SII e
constipação predominante). O equilíbrio das fibras, que
predominância de diarréia incluem antidiarréicos e, pos-
devem ser ingeridas sem excessos, é muito importante.
sivelmente, a colestiramina. Por outro lado, para aque-
Intolerâncias específicas como ao glúten e à lactose de-
les com predomínio de constipação podemos utilizar
vem ser reconhecidas. Uma vez estabelecida a relação
agentes laxativos (formadores de bolo fecal ou osmó-
entre determinados alimentos e os sintomas, justifica-se
ticos) e o tegaserode. Para alívio da dor estão indicadas
as drogas antiespasmódicas e relaxantes da musculatu-
A maioria dos pacientes com sintomas leves necessita
ra lisa. Além disso, os antidepressivos e ansiolíticos cons-
apenas de serem tranqüilizados em relação à sua doença
tituem opções terapêuticas valiosas para um subgrupo
e orientados quanto às modificações dietéticas (aumento
de pacientes, especialmente se há relato de agravamento
ou redução de fibras, lactose e frutose) e do estilo de
dos sintomas com estresse e quando são observadas
vida. Entretanto, alguns pacientes com sintomas leves e
co-morbidades psiquiátricas. Nos últimos anos, o desen-
aqueles com sintomas graves necessitarão de tratamen-
volvimento de drogas que têm como alvo os receptores
to farmacológico, intervenção psicológica ou ambos.
da serotonina traz grande expectativa para o tratamen-
O tratamento medicamentoso disponível visa aliviar
o sintoma predominante (Figura 1). Embora as diretri-
Todas essas opções de tratamento serão discutidas a
zes sobre o delineamento dos ensaios terapêuticos nos
distúrbios funcionais gastrointestinais alertem contra uma
A loperamida, um derivado – opiácio com capacida-
subclassificação dos pacientes de acordo com os sinto-
de de diminuir a velocidade do trânsito intestinal, pode
mas principais (em decorrência da instabilidade sinto-
ser útil (1 a 2 mg até três vezes ao dia) nos casos de SII
mática), ela efetivamente faz sentido especialmente na
com diarréia predominante, pois, além de contribuir para
SII (com predominância de constipação ou de diarréia).
o aumento da consistência das fezes e redução da fre-
Compostos com indicação específica para cada subgrupo
qüência evacuatória, ameniza a dor abdominal. Esse me-
de pacientes estão surgindo na atualidade. O problema
dicamento, por não atravessar a barreira hemato-
reside muitas vezes no fato de que vários pacientes têm,
encefálica, apresenta menos efeitos adversos que ou-
alternadamente, diarréia e constipação, dando origem
tros agentes similares, como o defenoxilato. A prescri-
aos chamados subtipos alternantes ou mistos, cujo tra-
ção de antidiarréicos deve ser sempre feita com caute-
la, uma vez que o paciente pode se tornar constipado,
Deve-se ressaltar que a resposta ao placebo é, em
especialmente os portadores da forma alternante de SII.
geral, muito alta. Estudos controlados e duplo-cegos de-
A colestiramina também deve ser considerada e o bene-
monstram que o placebo é capaz de promover melhora
fício na sua utilização parece relacionado à sua capaci-
dade de seqüestrar bile, especialmente empacientes com má absorção de ácidos
biliares. Outras drogas relaxantes da mus-culatura lisa do intestino, como o brometo
de pinavério, constituem uma outra opçãopara o tratamento dos pacientes com di-
arréia predominante, tendo a vantagem de
laxativos podem ser prescritos, mas sem-pre de maneira bastante criteriosa e, se
possível, por curtos períodos. Utilizamos
preferencialmente os laxantes que aumen-tam o bolo fecal (fibras insolúveis e solú-
veis), os agentes osmóticos (macrogol/PEGou lactulose) e os emolientes/lubrificantes
(docusato, óleo mineral). Os laxantes esti-mulantes/irritantes (antraquinônicos, dife-
Fig. 1 – Modalidades terapêuticas da SII
14 JBG, J. bras. gastroenterol., Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.12-18, jan./mar. 2006
SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL – ÊNFASE AO TRATAMENTO
ação, porém devem ser evitados pelos seus conhecidos
meses. Os tricíclicos devem se evitados nos pacientes
efeitos colaterais, como cólica abdominal e risco de le-
com constipação predominante pelo risco de agravamento
são do plexo mioentérico colônico. A utilização de outros
medicamentos capazes de estimular o trânsito colônico
Um trabalho de metanálise demonstrou que os antide-
tem sido tentada com eficácia clínica variável como os
pressivos são superiores ao placebo no tratamento da
procinéticos, a colchicina e a trimebutina.
SII, embora a qualidade metodológica dos estudos ava-
As drogas mais indicadas para o alívio da dor abdo-
liados seja, em geral, muito discutível. Foi observado
minal são os antiespasmódicos, como os antimus-
também que pacientes com SII e predominância de di-
carínicos, trimebutina, brometo de pinavério, brometo
arréia são os que mais se beneficiam com a prescrição
de octilônio e mebeverina. Os bloqueadores do canal de
cálcio não seletivos, como o diltiazen e a nifedipina, agem
Os ensaios clínicos com antidepressivos inibidores se-
sobre o cólon, mas os seus efeitos sistêmicos restrin-
letivos da recaptação de serotonina demonstraram re-
gem o uso na SII. O brometo de pinavério atua inibindo
sultados conflitantes e, algumas vezes, decepcionantes
a entrada de cálcio na musculatura lisa, porém apresen-
em termos de alívio dos sintomas digestivos. A fluoxetina
ta efeito seletivo sobre o trato gastrintestinal e, conse-
não foi capaz de alterar a sensibilidade retal e não foi
qüentemente, poucos efeitos sistêmicos. Dados recen-
superior ao placebo no alívio global dos sintomas quan-
tes indicam que essa droga também tem ação sobre a
do comparada ao placebo. Um estudo recente demons-
transmissão nociceptiva. A dose usualmente emprega-
trou que a paroxetina foi superior ao placebo (63% versus
da é de 100 mg, duas vezes ao dia, e vários estudos
26%; p=0,01) na melhora da função intestinal, não sen-
demonstram a sua superioridade sobre o placebo na
do superior no alívio da dor e da flatulência.
melhora da dor abdominal e da diarréia. O brometo de
Para melhorar a aderência a esse tipo de tratamen-
octilônio, outro bloqueador dos canais de cálcio, pode
to, deve-se informar ao paciente que a medicação
ser também utilizado para alívio da dor, e alguns estu-
antidepressiva atua como analgésico central, sendo ca-
dos recentes sugerem que essa droga é mais eficaz que
paz de controlar a dor abdominal ao reduzir a função
o placebo na melhora global dos pacientes. A mebeverina
aferente visceral e/ou facilitar as vias inibidoras descen-
é um derivado da papaverina que tem ação relaxante na
dentes no controle da dor, podendo ser de valia também
fibra muscular lisa, sem efeitos anticolinérgicos e, teori-
para os sintomas depressivos induzidos pela doença.
camente, capaz de normalizar a motilidade intestinal.
Os ansiolíticos também podem ser prescritos para al-
Resultados bastante satisfatórios têm sido observados
guns pacientes com SII pela freqüência dos sintomas de
quando utilizado na dose de 200 mg, duas vezes ao dia.
ansiedade e relato de agravamento do quadro intestinal
A experiência com o brometo cimetrópio, droga com ação
desencadeado por fatores emocionais. Alguns estudos
antimuscarínica, é muito limitada.
corroboram a eficácia dos benzodiazepínicos na SII, masa diferença entre droga e placebo é relativamente peque-
DROGAS COM AÇÃO NO SISTEMA NERVOSO CENTRAL
na. Em virtude do potencial de dependência e de interação
com outros medicamentos, essas drogas devem ser sem-
Os antidepressivos tricíclicos (amitriptilina, imipramina,
pre utilizadas com bastante prudência.
desipramina, doxepina) ou os inibidores da captação daserotonina (fluoxetina, sertralina, paroxetina), que apre-
OUTRAS DROGAS
sentam como mecanismo de ação uma provável analgesia
central e bloqueio da transmissão da dor do trato digesti-
Leuprolide, um análogo não peptídio da gonadotrofina,
vo para o cérebro, podem ser utilizados no tratamento da
tem sido usado no tratamento da SII, porém sua eficácia
SII. Essas drogas têm propriedades neuromoduladoras e
é bastante controvertida. Clonidina, um agonista alfa-
analgésicas, independentes da ação psicotrópica, e esses
adrenérgico, parece ter alguma eficácia na SII com pre-
efeitos ocorrem mais precocemente e com doses mais
baixas do que aquelas usualmente empregadas para o
tratamento da depressão (p. ex., 10 a 50 mg de amitripti-
NOVOS FÁRMACOS
lina e 10 a 20 mg de fluoxetina, uma a duas vezes ao dia). Antagonistas e agonistas dos receptores da
Estão indicados, de maneira especial, para pacientes com
serotonina (5HT)
sintomas mais graves ou refratários e quando se observanítida associação com depressão ou crises de pânico. Para
A justificativa para a investigação sobre os agonistas
que seja avaliado o real benefício do antidepressivo de-
e antagonistas dos receptores da serotonina (5-hidro-
vemos prescrevê-lo por, no mínimo, três a quatro sema-
xitriptamina/ 5HT) baseia-se no fato de que a serotonina,
nas e, caso seja considerado eficaz, mantido por 3 a 12
que pode ser liberada por células do tipo enterocromafins
JBG, J. bras. gastroenterol., Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.12-18, jan./mar. 2006
no trato gastrintestinal, assim como a partir de outras
randomizados e controlados avaliaram a eficácia dessa
origens neuronais ou não-neuronais, apresenta diversos
droga e demonstraram uma melhora estatisticamente sig-
efeitos motores intestinais bem documentados e pode
nificativa no objetivo principal (alívio da dor abdominal,
produzir hiperalgesia em vários modelos experimentais.
desconforto ou urgência fecal e satisfação do paciente)
Os receptores da serotonina pertencentes aos subtipos
para os pacientes que usaram alosetron em comparação
5HT3 e 5HT4 são os mais estudados em gastroenterologia,
com o grupo placebo. Estima-se em sete o número de
embora vários outros subtipos, tais como os agonistas e
pacientes que precisaram ser tratados para beneficiar um
antagonistas 5HT1, 5HT7 e 5HTIBID estejam surgindo atu-
A constipação intestinal é um efeito colateral comum
com o uso dessa droga, que por esta razão é absoluta-mente contra-indicada em pacientes com SII e constipa-
ção. Alguns outros efeitos colaterais sérios também fo-
Medicamentos serotoninérgicos novos e em fase de
ram associados ao uso do alosetron, como obstrução in-
pesquisa para a SII
testinal e colite isquêmica. Por causa dessas reações ad-
Classe de medicamentos
versas potencialmente sérias, o alosetron foi retirado do
mercado norte-americano em 2000, meses após sua apro-
vação inicial pela FDA. No entanto, foi novamente aprova-
do em junho de 2002, em parte por pressão dos próprios
pacientes, e atualmente vem sendo utilizado com prescri-
ção extremamente controlada, para casos refratários de
SII e diarréia, somente nos Estados Unidos. A dose inicial
recomendada é de 1 mg/dia, que é metade da dose usu-
almente empregada nos ensaios clínicos. Se o paciente
não exibir nenhuma melhora e a medicação for tolerada,
a dose do alosetron poderá ser aumentada para 1 mg,
duas vezes ao dia, após quatro semanas.
Outras drogas da mesma classe encontram-se em
fase final de investigação, como o cilansetron, que de-
Os receptores 5HT apresentam propriedades modu-
verá ser lançado ainda este ano no mercado farmacêu-
ladoras seletivas, sendo capazes de regular a peristalse e
tico com indicação para pacientes com diarréia e dor
reduzir a sensibilidade visceral. Além disso, também afe-
tam os processos secretórios ao nível da mucosa (especi-
Agonistas dos receptores 5HT4
almente os subtipos 5HT3 e 5HT4). Alguns dados experi-
mentais sugerem que variações genéticas podem ser res-
Os receptores 5HT4 são mediadores de diversas res-
ponsáveis por alterações da proteína transportadora de
postas sobre o trato gastrintestinal. Têm efeito procinético
serotonina (SERT), o que causaria modificações funcio-
ao aumentar a liberação de neurotransmissores, ação in-
nais do cólon em um subgrupo de pacientes com SII. O
direta na sensibilidade visceral ao serem capazes de re-
reconhecimento da importância do 5HT na transmissão
laxar células musculares lisas, além de atuarem na ab-
de estímulos sensoriais dolorosos para o SNC e de como
sorção/secreção promovendo aumento do líquido intra-
ele pode participar da motilidade digestiva e das secre-
luminal, com conseqüente eliminação de fezes mais amo-
ções intestinais estimularam a indústria farmacêutica a
pesquisar intensivamente drogas que atuam através des-
O tegaserode é um componente aminoguanidina-indol
agindo como um agonista seletivo e parcial de receptores
5HT4 e tem demonstrado boa eficácia e tolerabilidade no
Antagonistas dos receptores 5HT3
tratamento da SII. Estruturalmente é diferente dos subs-
titutos de benzamidas tais como cisaprida ou metoclo-
Os efeitos dos antagonistas dos receptores 5HT3 in-
pramida e não tem relevante propriedade bloqueadora
cluem a redução da velocidade do trânsito e do reflexo
de receptor 5HT3 e dopamina D2. A ativação dos recepto-
gastrocólico, além de um aumento da complacência do
res 5HT4 (efeito agonista) dispara o reflexo peristáltico e
a atividade motora de todo o trato gastrintestinal. Os efeitos
O antagonista 5HT3, alosetron, não disponível no Bra-
procinéticos de tegaserode foram estabelecidos em mo-
sil, é eficaz no controle da diarréia e da urgência eva-
delos pré-clínicos que avaliaram o esvaziamento gástrico
cuatória em pacientes com SII. Cinco estudos clínicos
normal ou alterado e a motilidade intestinal diminuída.
16 JBG, J. bras. gastroenterol., Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.12-18, jan./mar. 2006
SÍNDROME DO INTESTINO IRRITÁVEL – ÊNFASE AO TRATAMENTO
Diversos trabalhos suportam o papel dos receptores 5HT4
e imunomodulador. Dois estudos realizados durante qua-
na modulação da sensibilidade visceral, sugerindo um
tro semanas observaram que o L. plantarum foi superi-
efeito benéfico de tegaserode na alteração da percep-
or ao placebo especialmente no alívio da dor e da flatu-
lência, mas não foi observada melhora global dos sinto-
Quatro estudos multicêntricos, controlados com pla-
cebo e randomizados de grande porte, avaliaram a efi-
Poucos estudos promissores empregando plantas na-
cácia do tegaserode no alívio dos sintomas dos pacien-
turais (ervas) chinesas foram publicados, contudo os re-
tes com SII. Nesses estudos, a melhora terapêutica em
sultados ainda não foram reproduzidos em grandes en-
favor do tegaserode (comparado ao placebo) variou de
saios terapêuticos. Recente revisão sugere efeito benéfi-
5% a 18%. A diarréia foi o evento adverso mais freqüen-
co da acupuntura para os pacientes com distúrbios fun-
temente mencionado, sendo relatada em 9% a 10% dos
pacientes tratados que receberam tegaserode em com-
paração com 4% a 5% dos pacientes tratados com pla-
TERAPIAS ALTERNATIVAS E ABORDAGEM PSÍQUICA
cebo. Os pacientes relataram melhora global dos sinto-
mas e aumento do número de evacuações. Não ficou
O tratamento psicológico deve ser considerado para
totalmente definido se o tegaserode é capaz de melho-
pacientes com sintomas mais graves que não respon-
rar significativamente a dor abdominal, a flatulência e a
dem ao tratamento farmacológico e para aqueles com
doenças psiquiátricas associadas, como depressão ou
Em um estudo recentemente publicado foi observado
transtorno da ansiedade. As intervenções psicológicas
que o tegaserode na dose de 2 mg, duas vezes ao dia,
mais estudadas no tratamento da SII são o controle do
acelerou significativamente o trânsito do intestino grosso
relaxamento e do estresse, a terapia cognitivo-com-
e apresentou perfil de tolerância e segurança favorável
portamental, hipnoterapia e a psicoterapia psicodinâmica
quando comparado ao placebo. Os efeitos colaterais mais
ou interpessoal. A maioria dos estudos corrobora o tra-
freqüentes foram diarréia, que ocorreu principalmente no
tamento psicológico na redução do estresse, ansiedade
início da terapia, cefaléia e dor abdominal.
e depressão e, em muitos casos, alívio da dor e do des-
O tegaserode foi liberado pelo FDA em 2002 para
conforto abdominal associado à SII. Uma interessante
tratamento da SII com predomínio de constipação em
revisão de 16 estudos clínicos randomizados e controla-
mulheres e, recentemente, também para o tratamento
dos envolvendo a terapia psicológica na SII concluiu que
da constipação funcional; a dose recomendada é 6 mg,
o tratamento psicológico é mais eficaz que o placebo no
duas vezes ao dia, antes das refeições. Esta droga não
alívio dos sintomas individuais. É necessário, no entan-
deve ser prescrita para pacientes que apresentam a
to, cautela na interpretação desses resultados, uma vez
síndrome com predominância de diarréia.
que a maioria deles apresenta grandes limitações doponto de vista metodológico. TERAPIAS FUTURAS
Os tratamentos psicológicos não foram comparados
entre si e, portanto, a escolha do método a ser indicado
Novas opções terapêuticas para a SII vêm sendo tes-
depende de disponibilidade, custo e preferência do médi-
tadas atualmente. Medicamentos analgésicos viscerais,
como, por exemplo, aqueles capazes de estimular os
A qualidade da assistência e o entusiasmo do profis-
receptores Kappa opióides (asimadolina), estão sendo
sional da saúde mental vão desempenhar, seguramente,
avaliados em vários centros de investigação. Também
papel fundamental no alívio da sintomatologia e no desfe-
estão em desenvolvimento drogas capazes de prevenir
cho clínico dos pacientes portadores da SII.
a sensibilização central, como os antagonistas do recep-tor 1 PGA-2 (EP-1). A corticotrofina também vem sendo
CONCLUSÃO
testada com alguns resultados promissores. A avaliaçãode drogas imunossupressoras para se tentar prevenir e
O arsenal terapêutico para o tratamento da SII está
tratar a SII pós-infecciosa também tem sido discutida.
em constante crescimento. Como vimos, o FDA aprovou
Os estudos empregando probióticos, sabidamente
recentemente dois novos fármacos: tegaserode para o
úteis no tratamento da diarréia infecciosa, têm desper-
tratamento de mulheres com SII e constipação e alosetron
tado grande interesse, uma vez que, teoricamente, eles
para mulheres com SII e diarréia e, com certeza, outros
poderiam modular a flora intestinal anormal na SII. Foi
fármacos estarão brevemente disponíveis. Dessa manei-
demonstrado que a administração de lactobacilos aliviou
ra, nos dias atuais, temos muito mais opções para o tra-
não apenas a diarréia, mas também a dor e a distensão
tamento dos pacientes com SII. Entretanto, uma boa re-
abdominal, provavelmente pelo seu efeito bacteriostático
lação médico/paciente continua sendo a base da terapia
JBG, J. bras. gastroenterol., Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.12-18, jan./mar. 2006
e parcela significativa de pacientes respondem favoravel-
18. Gorelick AB, Koshy SS, Hooper FG. Differential effects of
mente apenas a uma orientação médica adequada, me-
amitriptyline on perception of somatic and visceral stimulation in
didas dietéticas e comportamentais.
healthy humans. Am J Physiol 1998;275:G460-G6.
19. Guilera M, Balboa A, Mearin F. Bowel habit subtypes and temporal
Certamente, a melhor compreensão dos mecanismos
patterns in irritable bowel syndrome: systematic review. Am J
etiopatogênicos envolvidos nos distúrbios funcionais es-
pecialmente em relação aos fenômenos psicossociais, aos
20. Lacker JM, Mesmer C, Morley S, et al. Psychological treatment for
distúrbios motores e às anormalidades das sensações
irritable bowel syndrome: a systematic review and meta-analysis.
viscerais, determinará avanços na terapêutica farmaco-
J Cons Clin Psychol 2004;72:1100-13.
21. Lembo T. Neurotransmitter antagonism in management of irritable
lógica, otimizando, em um futuro próximo, o manuseio
bowel syndrome. Lancet 2000;355:1035-40.
22. Lembo AJ, Olden KW, Ameen VZ, et al. Effect of alosetron on
bowel urgency and global symptoms in women with severe,
BIBLIOGRAFIA
diarrhea-predominant irritable bowel syndrome: analysis of two
controlled trials. Clin Gastroenterol Hepatol 2004;2:675-82.
1. Akehurst RL, Brazier IE, Mathers N, et al. Health-related quality
of life and cost impact of irritable bowel syndrome in a UK primary
23. Lembo AJ, Ameen VZ, Drossman DA. Irritable bowel syndrome:
care setting. Pharmacoeconomics 2002;20:455-62.
toward an understanding of severity. Clin Gastroenterol Hepatol
2. American Gastroenterological Association medical position
24. Lesbros-Pantoflickova D, Michetti P, Fried M, et al. Meta-analysis:
statement: irritable bowel syndrome. Gastroenterology 2002;
the treatment of irritable bowel syndrome. Aliment Pharmacol
3. Brandt LI, Bjorkman D, Fennerty MB, et al. Systematic review on
25. Malagelada JR. Review article: clinical pharmacology models of
the management of irritable bowel syndrome in North America.
irritable bowel syndrome. Alimenl Pharrnacol Ther 1999;13:57-
4. Callahan MI. Irritable bowel syndrome neuropharmacology: a
26. Muller-Lissner SA, Fumagalli I, Bardhan KD, et al. Tegaserod, a 5-
review of approved and investigational compounds. J Clin
HT(4) receptor partial agonist, relieves symptoms in irritable bowel
syndrome patients with abdominal pain, bloating and constipation.
5. Camilleri M. Review article: Clinical evidence to support current
Aliment Pharmacol Ther 2001;15:1655-66.
therapies of irritable bowel syndrome. Aliment Pharmacol Ther
27. Novick I, Miner P, Krause R, et al. A randomized, double blind.
placebo-controlled trial of tegaserod in female patients suffering
6. Camilleri M, Northcutt AR, Kong S, et al. Efficacy and safety of
from irritable bowel syndrome with constipation. Aliment Pharmacol
alosetron in women with irritable bowel syndrome: a randomized,
placebo-controlled trial. Lancet 2000;355:1.035-40.
28. Nyhlin H, Bang C, Elsborg L, et al. A double blind, placebo-
7. Camilleri M. Management of the irritable bowel syndrome.
controlled, randomized study to evaluate the efficacy, safety
and tolerability of tegaserod in patients with irritable bowel
8. Camilleri M, Chey WY, Mayer EA, et al. A randomized control ed
syndrome. Scand J Gastroenterol 2004;39:119-26.
clinical trial of the serotonin type 3-receptor antagonist alosetron
29. Talley NJ. Antidepressants in IBS: are we deluding ourselves? Am
in women with diarrhea-predominant irritable bowel syndrome.
30. Talley NJ. IBS: what's new and what we should do? AGA
9. Camilleri M, Spiller RC, eds. Irritable bowel syndrome: diagnosis
posgraduate course at Digestive Disease Week:259-73, 2005.
and treatment. Philadelphia: WB Saunders Co, 193, 2003.
31. Tobas G, Beaves M, Wang J, et al. Paroxetine to treat irritable
10. Camilleri M, Talley NJ. Pathophysiology as a basis for understanding
bowel syndrome not responding to high-fiber diet: a double-blind,
symptom complexes and therapeutic targets. Neurogastroenterol
placebo-controlled trial. Am J Gastroenterol 2004;99:921-3.
32. Veldhuyzen van Zanten SJ, Talley NJ, Bytzer P, et al. Design of
11. Cash BD, Schoenfeld P, Chey WD. The utility of diagnostic tests in
treatment trials for functional gastrointestinal disorders. Gut
irritable bowel syndrome patients: a systematic review. Am J
33. Watson ME, Lacey L, Kong S, et al. Alosetron improves quality of
12. Cash BD, Chey WD. Irritable bowel syndrome-an evidence-based
life in women with diarrhea-predominant irritable bowel syndrome.
approach to diagnosis. Aliment Pharmacol Ther 2004;9:235-45.
13. Cremonini F, Delgado-Aros S, Camilleri M. Efficacy of alosetron in
34. Whorwell PI, Krumholz S, Muller-Lissner S, et al. Tegaserod has a
irritable bowel syndrome: a meta-analysis of randomized controlled
favorable safety and tolerability profile in patients with
trials. Neurogastroenterol Motil 2003;5:79-86.
constipation-predominant and alternating forms of irritable bowel
14. Drossman DA, Camilleri M, Mayer EA, Whitehead WE. AGA
syndrome. Gastroenterology 2000;118:A1204.
technical review on irritable bowel syndrome. Gastroenterology
15. Drossman DA, Corazziari E, Talley NJ, et al. The functional
gastrintestinal disorders. Second ed. McLean,VA: Degnon
16. EI-Serag HB, Pilgrim P, Schoenfeld P. Systemic review: natural
history of irritable bowel syndrome. Aliment Pharmacol Ther 2004;
17. Evans BW, Clark WK, Moore DJ, Whorwell PI. Tegaserod for the
treatment of irritable bowel syndrome. Cochrane Database Syst
18 JBG, J. bras. gastroenterol., Rio de Janeiro, v.6, n.1, p.12-18, jan./mar. 2006
Identify the various classifications of oral and injectable medication currently used in the treatment of diabetes mellituspharmacokinetics, dosing, adverse effects and drug interactions of each class of diabetes medicationsMetabolic disorder characterized by hyperglycemia¾Impaired pancreatic insulin secretion¾Increased hepatic glucose production¾Decreased peripheral glucose uptake Gluc
Informazioni Generali Premessa Dal 1974, data dell’invasione turca, l’isola di Cipro è formalmente divisa in due comunità, quella greca, che è la più numerosa, e quella turca. L’unico Stato internazionalmente riconosciuto è la Repubblica Cipriota formata dalla comunità greca, poiché la Repubblica Turca di Cipro del Nord è riconosciuta solo dal Governo turco. La presente sche